CIDADE UNIVERSITÁRIA, 16 DE DEZEMBRO DE 2024, Nº 0005, Especial de Natal
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A TORRE DO PAPAI

A torre do relógio será transformada em uma grande árvore de Natal feita de livros. A USP escolheu utilizar os livros da biblioteca Florestan Fernandes para essa iniciativa. "É uma ação de reciclagem, alinhada com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Temos muitos livros lá, boa parte do conteúdo já está disponível na internet. Ninguém vai ler tudo aquilo. Nossos engenheiros da Poli calcularam que precisaremos de 97,59% dos livros daquela biblioteca para construir a grande árvore", afirma Bob Malinowski, pró-reitor de Cultura, Extensão, Shows e Coffee-break Universitário.
Questionado sobre a possibilidade de chuvas prejudicarem os livros, o pró-reitor informou que, em contato com o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), foi garantido que talvez não chova, pois o Sol está em quadratura com Saturno. Ainda, foi contratado por 5,8 milhões de reais o famoso Cacique Cobra Coral, que garantirá que não haverá chuvas na Cidade Universitária até março de 2025.
CAFÉ NATALINO

O restaurante central da Universidade de São Paulo (USP) oferecerá panetone no café da manhã de Natal. A universidade informa que os interessados devem realizar o cadastro pelo JúpiterWeb na manhã do dia 25 até a abertura do restaurante. Serão disponibilizados sete panetones, e cada pessoa deverá tirar seu pedaço com as mãos e colocá-lo na bandeja. A USP solicita que os alunos usem luvas descartáveis para garantir a higiene. Além disso, o restaurante preparará uma gemada especial de Natal. Três funcionários convidados do coral USP estarão gemendo enquanto os alunos tomam o café.
UM CONTO DE NATAL
O senhor Antônio Grinch Scrooge, reitor da melhor universidade da América Latina, acordou suado e assustado na madrugada do dia de Natal.
— O que foi, marido? Está tudo bem? Sonhou outra vez que o DCE transformava a raia olímpica em gelatina vermelha em homenagem a Fidel Castro?
— Tive um pesadelo horrível, esposa… muito mais horrível.
— O que aconteceu? Conte-me, como se eu realmente me importasse.
— No sonho, três fantasmas vieram me visitar.
— O primeiro me levou ao meu passado e me mostrou minha reprovação em Vetores e Geometria. Naquele ano, tive que fazer a prova de recuperação no dia de Natal, presencialmente, com "El colombiano" me observando, contando o tempo e comendo um panetone na minha frente, com as mãos sujas de giz.
— O segundo me levou ao presente, nas primeiras horas do Natal. Estava naquela moradia dos estudantes que vivem no campus. O fantasma me levou até o primeiro apartamento, erroneamente, e lá os estudantes estavam fazendo sexo… Não consegui contar quantos, ou pedir seus números USP, pois fui rapidamente transportado para o apartamento certo. O novo lugar, no térreo do bloco C, parecia um albergue. Vi um aluno, provavelmente irregular, comendo um pão e espremendo laranjas, provavelmente surrupiadas dos restaurantes. O estudante falou baixinho, como se fosse uma oração: “Obrigado, senhor Reitor, pelo banquete de Natal. Obrigado mesmo! Melhor da América Latina! A melhor… Como será que está a UNICAMP?” e começou a chorar.
— O terceiro me levou ao futuro: meu próprio enterro. A USP não fez uma semana de luto, os alunos cantavam canções e dançavam, ninguém apareceu, nada de cortejo fúnebre feito pela guarda universitária… nada. Só isso.
— E então, marido… o que vai fazer? Está bem com isso?
— Sei lá, pode ser um sinal para parar com o zolpidem!
O NATAL DO PEQUENO SARUÊ

Era uma fria véspera de Natal, e o campus da cidade universitária estava em silêncio. Até o CRUSP, normalmente cheio de movimento, estava parado.
— Podemos não revirar o lixo hoje? É Natal, mãe.
— Nós reviramos o lixo da felicidade alheia apenas, meu salgadinho. É o que fazemos.
— Mas… Eu queria ver o Natal na cozinha do bloco G… queria ver as luzes piscando.
— Não podemos ir todos lá, meu salgadinho. Eu e seus irmãos vamos andar pelo campus, procurar comida… mas se quiser, pode ir. Só não faça barulho. E lembre-se, o Natal é mais do que luzes brilhando. É sobre união.
O pequeno Saruê Salgado saiu e subiu rapidamente até o bloco G. Ficou espiando pela janela, curioso. As luzes piscavam, o cheiro de comida, as canções. Ele abaixando a cabeça sempre que alguém olhava para a janela.
— Achei que não iriam voltar mais… A cerveja já está ficando quente! Trouxe gelo?
— Sim, sim… O Uber passou por cima de algo perto da rua do relógio… mas seguiu direto. Era a última corrida dele.
— O que era? Uma capivara?!
— Não, não. Algo pequeno, talvez um rato.
— Rato? Nunca vi rato no campus. Deve ser algum saruê, sei lá. Coitado… E só tinha isso de gelo lá?
"Um saruê…", o coração de Salgado parou. Desceu sem se importar com o barulho. Correu com suas patinhas minúsculas, ofegante. Olhou a rua vazia, um ponto no meio da via, um montinho.
Sua mãe que carregava todos os seus pequenos e novos irmãos. Da última ninhada, ele era o único que sobrara. Da nova, nem seus irmãos, nem sua mãe. Todos mortos, esmagados, planificados no asfalto.
Seus olhos em lágrimas, fazendo todas as luzes cintilarem. Observava os corpos, unidos, mas sem vida. Nada podia fazer, além de abraçar os corpos e o destino.
A partir daquele momento, Saruê Salgado carregaria três "S": dois de seu nome e um de saudade. O milagre de Natal, talvez, era ainda estar vivo, e seu presente era a esperança de um futuro onde seu coração já não doesse mais.
NOTA DO DIRETOR
Agradeço, em nome de toda a equipe do jornal, pelo carinho, pelos sorrisos, pelo ódio e pelas lágrimas com que os leitores nos têm prestigiado. Estamos gratos pelos furos que alguns nos deram, pelos salgados virtuais recebidos e pelas histórias curiosas, como a de pessoas urinando nas calças no banheiro da FFLCH e não sabendo o que fazer (ainda avaliamos como responder ou usar). Por fim, tirando tudo de ruim do ano de 2024, foi um ano razóavel. Até 2025! Verdadeiros e salgados beijos para todos!
EXPEDIENTE
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